sexta-feira, junho 27, 2008



Mutação

congelei a lágrima
deixando
escorrer o mel

bebi
nas curvas
do tempo

-um néctar de céu-

do pó
recomeço
do fel
guardarei o doce

ébria ou sóbria
vejo a dor
-diluída em versos-

Cláudia Gonçalves

4 comentários:

orlando pinho disse...

o ponto


a lágrima congela
sumo
cristal o mel

sorvem linhas
as setas
do tempo

- básicos ácidos óxidos e sais dos céus –

do pó
à semente
o amargo
de sí traz doce

névoa ou réstia
nenhuma dor
lhe arraste

para clau, mutando sublimemente.

orlando pinhº d-silva
27062008

Anônimo disse...

“ENTRELINHAS”. Blogspot da poetisa Cláudia Gonçalves (Cacau). De caráter essencialmente literário. Textos e poesias afeiçoados aos padrões da moderna composição literária. O poema “Mutação” reflete a suma da unidade poética. Tomo-o como base para um pequeno comentário da obra aqui contida. “Mutação” é uma composição que versa sobre fato objetivo visto sob o prisma da realidade subjetiva que revela a identidade independente e autônoma do poema. É de inspiração surrealista, mas não renuncia ao lirismo básico que remove o conteúdo do relato para o âmbito da linguagem poética . Não podia ser de outra forma. O tema exige essa "diferença" que constitui a síntese da poesia, que é a sua “identidade” stricto sensu. Prefiro chamar de identidade ao invés de estilo.
Estilos, existem cópias à infinidade . Identidade, não. Toda identidade ideativa é diferente uma da outra, cada uma é única, insubstituível e inimitável. Porque a poesia é filtro da percepção humana, não raro extra-sensorial. A honestidade da crítica depende dessa percepção. Em geral a crítica – ressalvadas as exceções idôneas – tende mais para o julgamento dualista da obra em análise (onde insiste mais na compreensão, entendimento ou análise da identidade do poeta do que na compreensão, entendimento ou análise da identidade própria da poesia), confundindo o poeta com a poesia, em detrimento do registro analítico-interpretativo da obra de arte.
Portanto, é razoável afirmar que poesia não é, necessariamente, composta para ser compreendida, entendida, analisada ou interpretada do ponto de vista da identidade do autor. Mas a compreensão objetiva, o entendimento literário ou a análise interpretativa, lato sensu, da identidade da poesia como arte é imprescindível para o alcance da obra ao patamar de interesse da cultura humana. Muitos críticos procuram entender poetas e jamais o compreenderão, quando deveriam preocupar-se com a obra de arte, onde reside a identidade da poesia e jamais do poeta... Uma boa poesia jamais se faz com diplomas ou conhecimentos armazenados na erudição adquirida pelos métodos convencionais. Poeta e poesia jamais se confundem.
Por essa razão, a poesia conduz - com limites impostos pelo consciente - o poeta que dela aceita o tema conduzido pela sedução poética (núcleo ideativo segundo Sartre). Tenho que aplaudi-la, Cláudia, minha Poeta! Sua poesia (e a tenho conhecido) tem uma personalidade psicoliterária incomum, graças a essa identidade essencialmente literária que algumas vezes, por simples descuido, deixa-se de perceber. Esse fenômeno deverá ser registrado quando do lançamento de seu livro-solo... E me considero honrosamente privilegiado por estar envolvido com sua poesia, ainda que por mera, mas gratificante simpatia artística. AbraçoPoesia do seu admirador.

Afonso Estebanez.

Vania Gondim disse...

amenizar a dor em versos, privilégio do poeta. Parabéns! bjjs bjs

ANDRADE JORGE disse...

congelei a lágrima
deixando
escorrer o mel

bebi
nas curvas
do tempo

-um néctar de céu-

poetisa, poeta Claudia Gonçalves isso é poesia!!